Tuesday, February 17, 2009

"We were not ready for the poor"



Enquanto o tópico de racismo e segregação - ainda que tenso - é amplamente discutido no Alabama, o tópico de pobreza é quase que ignorado. Quando eu falo de pobreza nos Estados Unidos, todo mundo pensa que o pobre aqui é quase um milionário no Brasil. Big mistake. Sem-tetos são sem-tetos em qualquer lugar; famintos são a mesma coisa em Manaus e em Nova Iorque; drogados têm exatamente os mesmos problemas na Igreja Metodista do Alabama e na Fazenda Nova Esperança. Na verdade, enquanto eu entregava café-da-manhã na Igreja da Reconciliação, não fosse a língua, eu poderia jurar que eu estava na Fundação Allan Kardec. A principal diferença é que a quantidade de pobres aqui é infinitamente inferior a das grandes cidades brasileiras, o que gera o problema da invisibilidade: muitas pessoas nem estão cientes que existem pessoas sem-teto nas ruas, já que elas não são confrontadas por pedintes no sinal de trãnsito todo dia. Quanto a classe média, é claro que as coisas que eles desfrutam aqui são beeem melhores que as da nossa classe média. O Rev.Riggs explicou que a igreja nasceu para ser contra a segregação e receber gente de todas as raças, mas quando eles abriram as portas, foram surpreendidos por um grupo que reúne negros, brancos, amarelos e misturados: os pobres. "We were not ready for the poor", ele disse. As igrejas protestantes americanas são superacostumadas a receber famílias ricas e ele teve que se adaptar pra receber os pobres (afinal, a idéia da igreja era receber "todo" tipo de gente). Até hoje essa igreja recebe críticas por isso, dado que a doutrina protestante é basicamente Salvação Individual e eles têm bastante resistência em aceitar problemas sociais como algo que tem alguma coisa a ver com a vida deles.

"The government, the economy and the Klan had a symbiotic relationship"


Nesta igreja a KKK realizou um ataque terrorista famoso que resultou na morte de quatro meninas

Existem duas coisas extremamente marcantes em B'ham: a guerra pelos Direitos Civis e a história da indústria siderúrgica. Após a Guerra Civil, a galerinha do sul resolveu construir on Novo Sul através de uma rápida industrialização. Milhares de indústrias pesadas fugiram para o Alabama em busca da mão-de-obra barata dos brancos empobrecidos e quase escrava dos negros recém-libertados. O aço fez com que a cidade crescece do dia para a noite. Quando eu visitei o abrigo pros sem-teto, o Reverendo Riggs explicou que governo, economia e religião andavam de mãos dadas. As leis Jim Crow garantiam a segregação e os baixos salários para a indústria; a US Steel garantia o "milagre econômico" que legitimava o governo; e a Ku Klux Klan garantia a segurança, a moral e religião das elites. A KKK é uma organização terrorista cristã, branca e protestante, que tinha um Klan em quase todas as igrejas do sul dos Estados Unidos. Se você fosse branco e rico, era comunzão seu pai e todos os amigos dele lincharem negros na rua durante a noite. Para saber mais, corre na Superinteressante . Também recomendo o filme O Nascimento de uma Nação, que explica a importância do Klan para o renascimento do sul e tudo que eles são hoje. Pretty fucked up. O Civil Rights museum foi uma das coisas mais interessantes da viagem.

"Hey, guys, check it out. She is brazilian"

Uma das coisitas mais interessantes e engracadas da viagem pra mim era a reação que eu causava nas pessoas - especialmente naqueles velhinhos negros que passaram vinte anos na cadeia e estavam vendo essa pessoa que nao é branca e nem negra provavelmente pela primeira vez na vida. Todo santo dia eu tinha que explicar umas mil vezes como e o Brasil, como eu vim parar no Alabama, etc, etc. É altamente incomum eles entrarem em contato com alguem internacional, mas ninguém foi racista ou algo do tipo. O que ocorria era que geralmente eles chamavam os amigos para ouvir as historias do Brasil e adoravam tudo.


Up and out

No sul dos estados unidos o povo é bruto. Experimenta pedir alguma coisa pra alguém - certeza que a resposta vai ser "This ain't no Walmart". Estou contando isso porque um anônimo pediu pra que eu escrevesse as impressões sobre o impacto das eleições do Obama, e a primeira coisa que eu pensei foi "This ain't no CNN". Depois, pensando no assunto, eu percebi que B'ham foi a primeira cidade onde eu nao vi NADA sobre as eleições nas ruas. Nenhum panfletinho, nenhuma camiseta, nada. Pesquisando na internet eu descobri que apesar da grande comunidade negra na cidade, o obama perdeu de 61% no Alabama. Conversei com o reverendo a respeito e ele me explicou que um grande problema no Alabama é o que ele chama de "up and out". Trata-se de um fenômeno onde os negros da cidade, quando conseguem melhorar de vida, optam por sair de onde moram. Isso faz com que a comunidade em geral nunca melhore de condições e que os não-brancos nao tenham representatividade - sendo o voto não-obrigatório, a tendência é que as pessoas mais politizadas votem mais, e as pessoas mais politizadas são as que tem acesso a educação. Agindo como o bom estado republicano perdedor, o Alabama nao tem posters e nem muita reação as eleicoes 2008 e eu pelo menos não consegui capturar absolutamente nenhuma impressão acerca disso. Também nao procurei muito. This ain't no CNN.


Vistinha geral

Monday, February 16, 2009

Alabama - primeiro dia

O primeiro dia da viagem pra B'ham continuou sendo um dia de contrastes. Pela manhã nós fomos visitar um museu sobre a história da revolução industrial na cidade (BO-RI-NG) e tudo que eu consegui pensar quando eu vi aquele monte de coisa foi: COAL IS EVIL! Se tem uma coisa que eu odeio mais do que plantação de milho e soja, é carvão mineral . Depois disso nós seguimos para uma instituição de reabilitação para mulheres, onde as mulheres moram depois de saírem da cadeia para se reinserirem (essa palavra existe?) na sociedade e tals. Tem reabilitaçao para drogas, protecao contra violência e tudo mais. Eu fui encarregada de tomar conta de nove bebês na parte de creche (para os filhos das mulheres e das pessoas que trabalham na casa). Você deve estar se perguntando quem foi o doido que me deixou tomar conta de bebês, levando-se em consideração que eu:

a) Nunca fiquei sozinha com um bebê na vida
b) Não sabia que a fralda era presa com um adesivinho que já vem nela
c) Não sabia que bebês de um ano já sabem andar

Mas eu consegui e fiz dois bebês dormirem em menos de 20 minutos (RÁ!) e brinquei com eles a tarde toda. O único problema é que eu roubei dois deles e acho que talvez alguém possa perceber isso mais cedo ou mais tarde. Ou na alfândega no Brasil. Enfim...
Também conversei com algumas mulheres que ficam na casa e que acabaram de sair da cadeia. Achei tudo badass.

Depois disso nós seguimos para o Museu dos Civil Rights, que conta toda a história da segregação entre negros e brancos no sul dos Estados Unidos. Foi bem chocante, these people are fucked up.
Para finalizar, fomos jantar num country club com uns Alumni (ex-alunos) milionários. O lugar é simplesmente a coisa mais rica e fina que eu já vi na vida, chega a ser angustiante. Depois da melhor comida que eu já comi, estou pronta pra desmaiar na cama. Desejem-me sorte amanhã.

Sunday, February 15, 2009

February Break

Pensei em fazer um twitter pra ficar atualizando durante a minha viagem ao Alabama, mas depois pensei porque raios eu não simplesmente faço posts minúsculos neste velho blog? Então preparem-se pro diarinho pride.
Estamos no February Break e eu to fazendo a viagem do meu curso de Poverty pro Alabama. Depois de uma viagem de carro de dez horas rumo ao sul dos Estados Unidos - passando pela Virginia, Tenessee e Georgia - chegamos em Birmingham, Alabama. Ainda não sei nada da cidade, então nada de interessante pra contar.
Primeira ironia do Feb Break: eu estou ficando na casa de ex-alunos da Washington and Lee a.k.a a casa mais milionária que eu já vi na vida. O curso é de pobreza =D
Nova mania da rach: escrever uma frase entre tracinhos com função de aposto. Pra você que faltou às aulas do Vilela - e portanto não lembra o que é um aposto - taí um exemplo. Eles usam direto em Inglês e eu acho superprático.

Tuesday, February 10, 2009

It's not that bad...

Depois do post traumatico sobre o pledgeship, eu to escrevendo um sobre as coisas boas do trote e das fraternidades em geral. Note que eu disse fraternidades e nao sororities, porque eu ainda nao descobri nenhuma vantagem em entrar na versão feminina (semana passada elas tiveram que acordar cedo no domingo pra fazer panquecas pra uma das fraternidades. Não, não era um evento filantrópico ou algo assim, era só pra agradar os machos mesmo).
Coisas legais do pledgeship incluem:
- Eles são obrigados a saber tudo sobre os outros membros (não sei o porquê, mas eu acho que dada a falta de interação humana que reina aqui, eu acho isso legal)
- Eles aprendem a organizar festas
- Eles são os sober drivers em festas. Isso, obviamente, evita acidentes
- Eles são obrigados a vestir coisas engraçadas durante as aulas

Então, quando eu começo a recuperar minha esperança na humanidade, acontece isso no Brasil:
Veteranos bateram em calouro com chicote


Deixo vocês agora com uma das apresentações do Lip Sync 08. Adoro a combinação álcool + Universidade Americana