Escrevo esse post com muito pesar e medo também. Isto porque, entre 10 pessoas que eu conheço, 9 poderão ficar ofendidas e não é essa minha intenção. Além do mais, eu não conheço a vida e as necessidades de cada pessoa, então não quero generalizar, mas esse post está me pedindo para existir há dias e agora o tal concurso já passou. Acho que já deu para entender que eu estou falando do concurso do Ministério Público, né? Politicamente falando, eu acho um absurdo o teto salarial deste concurso. Três mil reais para nível médio é algo impraticável para a realidade brasileira. Vou ser mais clara: três mil reais para ensino médio gera uma realidade onde doutores, professores universitários ou médicos formados muitas vezes recebem menos do que pessoas que só grampeiam papel. Mas eu não acho que ninguém que se inscreveu nisso pensou no âmbito geral da coisa. E nem é dele que eu vou tratar neste post.
Na realidade, o que mais me assustou foi saber o quanto vale o sonho de uma pessoa. Eu sei que existem estudantes de direito que querem seguir carreira no MPE e um estágio bem remunerado lá seria algo ótimo, portanto excluamos estes do caso que eu trato neste post(Obrigado nath, pelo toque acerca disso).
Agora milhares de pessoas que estão na Universidade fazendo jornalismo, direito ou economia, por exemplo, estão dispostas a não trabalhar na área pelo dinheiro. E, infelizmente, a maioria dessas pessoas não estão grávidas de trigêmeos e precisam sustentar uma família. São pessoas comuns, de classe média (baixa ou alta), que moram com os pais, mas querem independência financeira. Então, seguindo um raciocínio lógico, já elas não vão pagar contas de água e luz, elas vão ter três mil reais para não receber mais mesada. Cinco mil para comprar roupas, fazer viagens, comprar livros, sapatos, comprar um carro, alisar o cabelo. Enfim, as mais diversas atividades que configurariam uma "independência financeira". Algumas ainda me disseram que é apenas até a formatura, após a qual elas voltariam para a profissão escolhida. A essas eu peço desculpas, mas tenho que dizer que acho isso balela: você passa um ano (ou mais) acostumado com um padrão de vida de 3 mil mensais para gastar na vida boa, com a garantia de que nunca vai ser demitido e vai me dizer que, ao se formar, irá aceitar um emprego de mil e quinhentos reais no Diário do Amazonas, se fudendo todo dia. Ah, eu estou sendo generosa, pois se você não fez nenhuma atividade durante a faculdade por estar grampeando papel no MPE, é lógico que eles não vão te dar mil e quinhentos reais de salário inicial.
Pode ser que eu esteja enganada, e eu espero muito que isso aconteça e que daqui a uns dois anos pipoquem microempresas ou pessoas com pós-graduação (que conseguiram pagar graças ao MPE) e as pessoas que passarem não vejam o serviço público somente como algo altamente estável e rentável, a ponto de largarem seus sonhos por ele. Que estas pessoas percebam que, se era para nível médio, talvez o país estivesse dando uma chance para quem NÃO faz faculdade.
Hoje, eu apenas consigo ver uma coisa claramente: o preço do sonho de um universitário é baixo demais. Um sonho de ser jornalista, médico, advogado ou economista pode facilmente comprado por cinco mil reais mensais.
Como a prova já acabou, boa sorte para quem passou. Que vocês consigam me provar que eu estou errada.
P.S: Ah, já sei que vão me dizer que pra mim é fácil. Sou filha do Mourão, já tem futuro garantido e essa merda toda. Mas eu não trabalho com meu pai e nem pretendo. E também não ganho nem 300 reais de mesadinha. Ou seja, usar de um argumento imbecil como este para justificar que você PRECISA de cinco mil todo mês é como dizer: ah, ela tem o rostinho bonito, não precisa ser competente.
