Sou só eu...
...ou tá todo mundo se sentindo mais burro também?
(Texto originalmente enviado pra corrente de email do sétimo período de jornalismo da Ufam)
"Rápido, barato, inexato, partidarista, mescla de informações aleatoriamente obtidas e pouco confiáveis, não-investigativo, opinativo ou assertativo, detentor da credibilidade e da plausibilidade, o jornalismo se tornou protagonista da destruição da opinião pública". Assim termina o primeiro capítulo do livro Simulacro e Poder: Uma análise da Mídia de Marilena Chaui, e assim também termina minha avaliação pessoal da atividade jornalística após o sétimo período do curso de comunicação social- jornalismo na Ufam. Faz precisamente um ano que meus estudos se resumem a decorar manuais de como escrever textos para rádio e tv ou diagramar páginas de jornal, deixando de lado assuntos como ética, realidade ou responsabilidade social que, quando muito, são pincelados nas aulas de apresentação e encerramento de cada disciplina.
Talvez a culpa seja da grade curricular que enfatiza a ténica, mas o fato é que quando estes assuntos surgem em sala de aula, eles são rapidamente podados pelas regras do "como escrever". Embora ainda exista um esforço em se dizer que toda regra tem exceção, que estas regrinhas só servem para "orientar"os alunos, que a informação e o interesse coletivo deve estar acima de tudo, essas frases só são faladas na primeira aula e no início dos capítulos, sendo rapidamente engolidas pela necessidade da velocidade, da clareza e pela busca do padrão. Eu, pelo menos, nunca presenciei uma única "exceção". A tentativa de fugir da regra do manual sempre foi rapidamente tolhida e acabamos nos transformando em máquinas de escrever scripts. É assim que hoje eu me sinto tendo que decorar três capítulos de concordância verbal, regência, vocabulário técnico para a prova de uma disciplina que me ensinaria a escrever textos para a tv; e apenas uma página de reflexão sobre o ato de escrever para a televisão.
Sei que não sou a única que sente-se assim. Freqüentemente ouço dos meus colegas o quanto a busca pela objetividade, clareza e concisão estão os deixando mais burros. No blog pessoal do aluno Clayton Nobre, ele explicou exatamente como nos sentimos: assim como Kafka, sonhamos com a enorme imagem de um açougueiro, cortando-nos com doce e mecânica regularidade, tirando fatias finas de nós, que voam por todos os lados devido à velocidade da ação. Espero, com todas as forças, que nossos professores não se tornem nossos novos açougueiros (ainda que não seja esta a intenção deles). Já temos que lidar com a cobrança do mercado nos nossos estágios tão amarrados, não queremos aprender a nos adaptar a elas na Academia, local onde deveríamos poder refletir sobre o fazer jornalístico.
Comentários:
É como o clayton diz "vamos entrar para a escola dos autodidatas". Ser formado pela UFAM não significa que estamos preparados profissionalmente para o mercado. Temos que ter "certeza" do que queremos para buscarmos individualmente nossos caminhos dentro do curso. O problema é quando por natureza não conseguimos ter essa certeza (somos "JOVENS"). E sem ter certeza acabamos sendo carregados pelo curso e corremos o risco de nos tornarmos massa de manobra.
Eu demorei muito para começar a compreender a Universidade e tenho a pequena impressão de que a busca por essa compreensão pode ser como a busco pela felicidade, não tem fim. O mais importante é questionarmos tudo, pois talvez assim, quem não tem certeza pode achá-la.
A Universidade possui diversos problemas e acredito que o maior deles seja o seguinte: "Somos uma Universidade Federal quer mais o que!?".
Quando mandamos nossos currículos para estágios ser estudante da UFAM pesa na decisão. Mas porque!?, uma faculdade cheia de problemas estruturais tem tanto peso? Acredito que o único diferencial somos nós, os alunos, juntamente com os professores que tem uma postura educacional construtivista. A prova disso foi o último ENADE.
"vamos entrar para a escola dos autodidatas"
"Não espere por ninguém, faça tudo acontecer. Lembras que o que ti convém pra eles não tem nada a haver"
Abraço para todos
Caio Mota
Povo,
Passo pelos dois lados da moeda e sei o que é isso. O prêmio do Instituto Itaú Cultural mostrou exatamente o que Caio e Clayton afirmam: o que me garantiu lá foi a capacidade de ser auto-didata do que qualquer outra coisa. Até mesmo porque não tivemos uma aula decente de técnicas I. Quando cheguei em São Paulo, em Dezembro de 2007, vi as enormes diferenças. Desde a simples grade curricular, que pra nós é totalmente obsoleta do resto do país, até a discussão fundamentada em conteúdo, eu senti na pele as dificuldades. Nos trabalhos do laboratório on-line não foi diferente. Hoje, olhando de quem recebe um conteúdo maior nessa bolsa, vejo o quanto nós precisamos ( e muito!) de uma metodologia de aprendizado mais aperfeiçoada. Adoro essa Universidade, com certeza foram alguns dos melhores anos da minha vida, mas não acredito que até agora tivemos uma boa base de técnica/teoria em comunicação. Temo que muitos daqueles que recebem o conteúdo atual terão um choque bem grande quando chegarem no mercado de trabalho, assim como eu num simples colóquio de jornalismo cultural.
Abrindo esse leque de comunicação abro uma outra questão: se a UFAM está do jeito que está e ainda é a melhor referência, imagina as outras univesidades? As particulares têm toda uma estrutura técnica, professores bem pagos, investimentos em livros, etc. Mas cadê a qualidade na programação da televisão Amazonense, por exemplo? Cada vez mais assistimos aberrações como o mais recente "MTV na balada", que para mim é uma afronta à inteligência do jovem manauara e um desrespeito por uma emissora que sempre prezou pelo alternativo, de qualidade e criatividade.
A ferida é muito grande. O profissional que quer se diferente no mercado, independente de onde estude, precisa buscar meios para tal. Para isso deve ter mente aberta, disposição para ir além da sala de aula e questionar sempre. O cenário é complicado e pra isso é preciso disposição para se aperfeiçoar... e também na hora de mostrar sua força de trabalho.
--
Um grande abraço !
Antonio Carlos Junior
É isso aí. Valeu a menção ao blog. O Bufão está mais feliz.
São os problemas da academia na sua generalidade.
Sinceramente, não vou perder tempo para estudar nesse fim de semana.
Na última prova, a prof considerou a minha criatividade, é assim que vou encarar essa agora.
Publica teu texto no blog, menina!
Até,
Clayton Nobre
Rach lendo Freakonomics, Simulacro e Poder, Principles of Economics, Superinteressante e What Would Tyler Durden Do?
Rach ouvindo Thievery Corporation
1 Ixi! Comenta aÃ, vai?
É. Um texto profundo.
Gostei de saber que tem gente se unindo nem que seja compartilhando as "dores" para tentar fazer a diferença no mercado de trabalho.
É. Eu realmente não queria ser precoce não mais...tava pensando nisso também..
Post a Comment
<< Home